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História Natural

Horto do Pará

Escrito por Super User | Publicado: Quinta, 01 de Fevereiro de 2018, 11h24 | Última atualização em Quinta, 06 de Mai de 2021, 18h12

Carta do encarregado do Horto botânico do Pará, capitão Lourenço José Correa, comunicando o recebimento de espécies de plantas e dando informações sobre os progressos dos cultivos que ali estavam sendo realizados. Dessa forma, o documento revela à introdução e cultivo de  espécies interessantes para o comércio no período, bem como as técnicas utilizadas na atividade agrícola.

 

Conjunto documental: Correspondência original dos governadores do Pará com a corte, cartas  anexos
Notação: Códice 99, volume 21
Datas-limite: 1800
Título do fundo ou coleção: Negócios de Portugal
Código do fundo: 59
Argumento de pesquisa: História natural
Data do documento: 20 de junho de 1800
Local: Pará
Folhas:  documento 72

 

“Ill.mo e Ex.mo Senhor

Em observância da portaria de V. Ex.a datada em 6 de maio deste ano ponho na respeitável presença de V. Ex.a o seguinte. Que no dia 8 do dito mês e ano, recebi no Horto Botânico[1] vindo de bordo da charrua[2] de sua alteza real[3], denominada Augusta de que é comandante o capitão tenente Manoel da Silva Thomás, um caixão com 8 plantas de Morus Papyrifera, das quais só chegaram quatro vivas, e quatro mortas que logo fiz plantar com todo o cuidado, e se conservam vigorosas, e todas rebentadas de novo, que pelo pouco tempo da sua plantação admira o progresso que tem feito.

Que igualmente fiz fazer a plantação das sementes de pinheiro da variedade escocesa, e das pinhas de cedro do Líbano[4] nas diferentes conjunções da Lua[5], e em diferentes terrenos mas ainda não nasceram.

Pará[6] 20 de Junho de 1800.

capitão Lourenço José Correa de Carvalho como encarregado da inspeção do Horto Botânico.”

 

[1] JARDIM BOTÂNICO DO PARÁ: criado por carta régia de d. Maria I, em 4 de novembro de 1796, o Jardim Botânico de Belém do Pará foi instalado em terras doadas à fazenda real por Hilário de Souza, junto ao terreno do extinto convento de São José, numa área de 50 braças em quadro, alguns anos mais tarde expandida. Além dos objetivos determinados no documento de criação para estabelecimento de viveiros e educação de plantas, d. Francisco de Souza Coutinho, governador do Grão-Pará (1790-1803), considerou introduzir também o cultivo de plantas indígenas e de mudas de espécies de “árvores de construção”. A concepção do complexo do Jardim Botânico do Pará, incluindo o Jardim das Caneleiras e o assentamento de colonos em torno do jardim, teve inspiração no jardim La Gabrielle (1778), situado em Caiena, na Guiana Francesa, de onde várias espécies foram transplantadas para aclimatação, a exemplo de pés de abricó, frutas pão, abacateiro, cravos da Índia, jacas, jasmins e maracujás. Além das mudas provenientes da colônia francesa, cujo primeiro envio data do final de 1809, atuaram na fundação e primeiros anos do Jardim do Pará Michel du Grenouillier e Jacques Sahut, que vieram de Caiena. Contudo, a consolidação do jardim paraense se deu com a atuação de Marcelino José Cordeiro, que havia sido um dos auxiliares do governador do Rio Negro, Manuel da Gama Lobo d’Almada e administrador da Serraria Real do rio Acará. A importância do Jardim Botânico do Pará pode ser medida pela influência que exerceu na criação de hortos pelo Brasil, principalmente com a vinda da família real. Esse jardim recebeu, entre 1817 e 1820, a visita dos naturalistas Spix e Martius. Entre 1818 e 1821 o jardim botânico foi dirigido pelo médico e naturalista Antônio Corrêa de Lacerda que realizou experimentos agrícolas, renovou a plantação de caneleiras e a produção de canela e iniciou a catalogação e a classificação botânica das espécies cultivadas que deu origem à Flora Paraensis. A partir da década de 1820, teve início um período de degradação do complexo do jardim botânico, acentuado com as batalhas da Cabanagem. De acordo com o pesquisador Nelson Sanjad, esse período “demarca não só a falência do complexo comercial-científico de Belém, como também o fim de uma política de investimentos na cidade que vinha se mantendo desde meados do século XVIII (...)” (Nos Jardins de São José: uma história do Jardim Botânico do Grão Pará, 1796-1873. Dissertação, Unicamp, 2001. p. 153). Em relatório do ano de 1879, o presidente da Província do Pará, José Coelho da Gama e Abreu admite o fim do Jardim Botânico de Belém do Pará face ao seu estado de destruição.

[2] CHARRUA: navio de três mastros e um grande porão, mas de pequena capacidade para armamentos. Em atividade desde a segunda metade do século XVII e em parte do XIX para o transporte de víveres, munição, tropas, foi regularmente empregado no tráfico de africanos escravizados, a exemplo do que se fazia entre Lisboa e a Costa da Mina. Embora exista pouca bibliografia sobre a charrua, estudos desenvolvidos sob os mais variados enfoques, como a história militar portuguesa ou o comércio negreiro, mencionam essa embarcação, indicando seu uso recorrente.

[3] JOÃO VI, D. (1767-1826): segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, se tornou herdeiro da Coroa com a morte do seu irmão primogênito, d. José, em 1788. Em 1785, casou-se com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do herdeiro do trono espanhol, Carlos IV que, na época, tinha apenas dez anos de idade. Tiveram nove filhos, entre eles d. Pedro, futuro imperador do Brasil. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada incapaz. Um dos últimos representantes do absolutismo, d. João VI viveu num período tumultuado. Foi sob o governo do então príncipe regente que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência dessa invasão, a família real e a Corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da Real Biblioteca; criação de escolas e academias e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, retornou com a Corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente.

[4] PINHAS DE CEDRO DO LÍBANO: nome comum de diversas árvores coníferas, cuja madeira é muito empregada na carpintaria. O mais conhecido é o cedro-do-líbano (cedrus libani), dotado de uma “copa poderosa” e de uma longevidade calculada em 2000 anos. Devido a sua resistência é considerado pelos libaneses um símbolo de força, sendo o ícone que ilustra a bandeira do país.

[5] CONJUNÇÕES DA LUA: A expressão refere-se a um hábito milenar de cultivo das plantas seguindo as mudanças da lua, pois acreditava-se que as condições da natureza (de solo, clima, umidade) seriam diferentes em cada fase da lua (nova, crescente, cheia e minguante).

[6] PARÁ, CAPITANIA DO: a etimologia do nome da antiga unidade administrativa decorre do rio Pará, derivado do tupi-guarani pa'ra que significa rio do tamanho do mar ou grande rio devido sua grande extensão. No ano de 1621, a colônia americana portuguesa foi dividida em dois territórios administrativamente separados que respondiam ambos diretamente a Lisboa: o Estado do Brasil, com sede em Salvador, e o Estado do Maranhão, com centro administrativo em São Luís. O Estado do Maranhão e Grão-Pará permaneceu com essa designação até o ano de 1751, quando no reinado de d. José I e do gabinete de Sebastião José de Carvalho e Melo, transfere a capital administrativa de São Luiz para Belém (fundada em 1616) e passa a se chamar Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Estado do Grão-Pará e Maranhão era composto pelas capitanias do Pará, Maranhão, Piauí e Rio Negro, mantida essa estrutura até o ano de 1772/1774, quando o governo português resolve dividir o Estado do Grão-Pará e Maranhão em duas unidades administrativas distintas: o Estado do Grão-Pará e Rio Negro (1772/1774 -1850), ficando a capitania do Rio Negro Subordinada ao Pará, e o Estado do Maranhão e Piauí (1772/1774-1811), ficado a capitania do Piauí subordinada ao Maranhão. Ambas, as unidades administrativas criadas ficaram subordinadas diretamente a Lisboa (SANTOS, Fabiano Vilaça dos. O governo das conquistas do norte: trajetórias administrativas no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1751-1780). Tese de doutorado em História. USP, 2008). As conquistas do norte eram inicialmente subordinadas ao Estado do Maranhão, que não conseguia defender toda a vasta região amazônica, além de expandir as fronteiras para o oeste. Para tentar efetivar a apropriação do território e conter o alcance da influência dos religiosos nas missões e aldeamentos, a Coroa criou e distribuiu sistematicamente, entre 1615 e 1645, capitanias e sesmarias ao longo do rio Amazonas. As capitanias que compunham o Estado do Maranhão no século XVII eram Pará, Maranhão e Piauí – reais – e Cumá, Caeté, Cametá e Marajó (ou Ilha Grande de Joanes), estas particulares e subordinadas às da Coroa. O regime das capitanias permaneceu em vigor desde 1615 até 1759, quando o marquês de Pombal, primeiro-ministro de d. José I, reformulou o sistema, incorporando todas à Coroa e dando uma nova configuração ao Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Grão-Pará representou grande possibilidade de riqueza para colonos e colonizadores, interessados nas drogas do sertão e nas terras indígenas. O setecentos, sobretudo na segunda metade, foi um período profícuo para a região, devido à intensificação do comércio das drogas e ao incentivo às culturas agrícolas, como o cacau, tabaco, café, algodão, entre outros, promovidos pela Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão e resultante da expulsão dos jesuítas, que controlavam o comércio com os índios.

Sugestões de uso em sala de aula:
Utilização(ões) possível(is):
- No eixo temático do ensino fundamental do 3º Ciclo “História das relações sociais da cultura e do trabalho”
- Ao trabalhar o tema transversal “meio ambiente”  

Ao tratar dos seguintes conteúdos:
- Economia colonial
- Práticas sociais e do trabalho
- Brasil colonial: riquezas naturais e seu comércio  

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