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Festas Coloniais

Sala de aula

Escrito por cotin | Publicado: Segunda, 05 de Fevereiro de 2018, 17h33 | Última atualização em Segunda, 05 de Fevereiro de 2018, 17h33

Batismo no Brasil colonial

Carta do conde de Aguiar para o Bispo Capelão Mor informando sobre o batismo do infante, filho de dona Maria Teresa com o infante d. Pedro Carlos. Informava também algumas medidas de segurança que deveriam ser seguidas para impedir a entrada de pessoas não convidadas. O documento apresenta a ordem litúrgica e a importância das celebrações cristãs na nobreza luso-brasileira.


Conjunto documental: Livro de Casamento e batizados de membros da Família Real e Imperial

Notação: Códice 263

Datas – limite: 1810-1845

Título do fundo: Casa Real e Imperial / Mordomia-mor

Código do fundo: Ø0

Argumento de pesquisa: Festas oficiais

Data do documento: 12 de Novembro de 1811

Local: -

Folha (s): 8 e 8v
 

“Função do Batismo

Para o Bispo Capelão Mor

Ex.mo Re.mo Sr  = O Príncipe Regente[1] Nosso Senhor, tem feito eleito da pessoa da V.Ex.a para batizar o Sereníssimo Senhor Infante[2] com que Deus Nosso Senhor abençoou os desposórios da Sereníssima Senhora Princesa Real Dona Maria Theresa[3] com o Sereníssimo Senhor Infante da Espanha dom Pedro Carlos. O Batismo se há de celebrar terça-feira 17 do corrente pelas seis horas da tarde na Real Capela de Nossa Senhora do Monte Carmo. Pelo que pertence à mesma Capela mandará V.Ex.a dispor nela tudo na forma que se costuma praticar em semelhantes atos. Tão bem V.Ex.a  ordenará pela parte que lhe toca, que a água que levarem os reposteiros para se fazer o batismo se benza a tempo, que quando chegar a Corte à capela, esteja tudo pronto da sorte que não haja demora.

As portas principais e travessas devem estar fechadas, para não entrarem mais pessoas do que aquelas que forem do serviço da mesma capela; os fidalgos[4]; os ministros dos Tribunais; os prelados maiores das religiões; os oficiais da Guerra que tiverem patente de sargento mor e daí para cima, em ordem, a cujo fim se tem mandado por guardas nas ditas portas: devendo o acompanhamento entrar e sair pela porta principal da referida capela.

 

Já V.Ex.a  sabe que neste dia há de haver repiques de sinos, como sempre se praticou em semelhantes ocasiões = Deus guarde a V.Ex.a em 12 de Novembro de 1811 = Conde de Aguiar[5].”

 

[1] JOÃO VI, D. (1767-1826): segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, se tornou herdeiro da Coroa com a morte do seu irmão primogênito, d. José, em 1788. Em 1785, casou-se com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do herdeiro do trono espanhol, Carlos IV que, na época, tinha apenas dez anos de idade. Tiveram nove filhos, entre eles d. Pedro, futuro imperador do Brasil. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada incapaz. Um dos últimos representantes do absolutismo, d. João VI viveu num período tumultuado. Foi sob o governo do então príncipe regente que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência dessa invasão, a família real e a Corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da Real Biblioteca; criação de escolas e academias e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, retornou com a Corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente.

[2] INFANTE: título de nobreza concedido aos filhos legítimos dos reis da Espanha e Portugal que não eram herdeiros da Coroa, bem como aos filhos do herdeiro presuntivo – o príncipe – do trono português.

[3] MARIA TERESA, D. (1793-1874): princesa portuguesa, cujo nome completo era Maria Teresa Francisca de Assis Antônia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança, filha mais velha de d. João VI e d. Carlota Joaquina. Casou-se com seu primo, o infante de Espanha d. Pedro Carlos Antônio de Bourbon e Bragança em 1810 no Rio de Janeiro, enviuvando dois anos depois. Estabeleceu-se na Espanha, após o regresso de d. João VI e da Corte a Portugal em 1821, onde participou ativamente da vida política. Em 1838, d. Maria Teresa contraiu segundas núpcias com o infante dom Carlos Maria Isidro, Duque de Madri e Conde de Montemolin e Molina, pretendente ao trono de Espanha.

[4] FIDALGO: a palavra fidalgo originou-se do termo filho d’algo, indicando aqueles “bem nascidos”, que possuíam foro de nobreza.

[5] CASTRO, D. FERNANDO JOSÉ DE PORTUGAL E (1752-1817): 1o conde de Aguiar e 2o marquês de Aguiar, era filho de José Miguel João de Portugal e Castro, 3º marquês de Valença, e de Luísa de Lorena. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, ocupou vários postos na administração portuguesa no decorrer de sua carreira. Governador da Bahia, entre os anos de 1788 a 1801, passou a vice-rei do Estado do Brasil, cargo que exerceu até 1806. Logo em seguida, regressou a Portugal e tornou-se presidente do Conselho Ultramarino, até a transferência da corte para o Rio de Janeiro. A experiência adquirida na administração colonial valeu-lhe a nomeação, em 1808, para a Secretaria de Estado dos Negócios do Brasil, pasta em que permaneceu até falecer. Durante esse período, ainda acumulou as funções de presidente do Real Erário e de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Foi agraciado com o título de conde e marquês de Aguiar e se casou com sua sobrinha Maria Francisca de Portugal e Castro, dama de d. Maria I. Dentre suas atividades intelectuais, destaca-se a tradução para o português do livro Ensaio sobre a crítica, de Alexander Pope, publicado pela Imprensa Régia, em 1810.

 

Sugestões de uso em sala de aula:

Utilização(ões) possível(is):
- Ao trabalhar o tema transversal “pluralidade cultural” 
- No eixo temático sobre a “História das representações e das relações de poder”
 

Ao tratar dos seguintes conteúdos:

- O Homem e a Cultura
- A sociedade colonial: movimentos religiosos e culturais 
- Brasil colonial: religião e sociedade

O nascimento da princesa

Carta enviada a Thomaz Antonio Villanova Portugal sobre os festejos que ocorreram nos dias de São João e São Pedro, em virtude do nascimento da princesa da Beira. Conta que no dia 24, depois de se ter louvado a Deus, ocorreram cavalhadas sérias, borlescas, bailes, danças, comédias que se repetiram no dia de “São Pedro”. O documento apresenta de que maneira a tradição cristã e a cultura popular misturavam-se nos festejos coloniais. 

 

Conjunto documental: Ministério dos Negócios do Brasil, Ministério dos Negócios do Reino, Ministério dos Negócios do Reino e Estrangeiros, Ministério dos Negócios do Império e Estrangeiros. Negócios Eclesiásticos.

Notação: 6J-82

Datas – limite: 1812-1821

Título do fundo: Diversos GIFI

Código do fundo: OI

Argumento de pesquisa: Festas oficiais

Data do documento: 5 de julho de 1819.

Local: Campamento da Real Bragança

Folha (s): 295

 

“Em cumprimento da ordem, que me foi intimada, passo a relatar pelo modo que me é possível o festejo[1], que a Coluna tributou ao Nome de S. Majestade[2], e do Sereníssimo Senhor Príncipe Real[3] nos dias 24 e 29 de junho do corrente ano.

(...) Com efeito na noite do dia 23 que principiavam os festejos, o Campo de Milícias do Rio Pardo havendo acendido uma regular iluminação, concorreram a ela de todas as pessoas de diferentes classes, onde a diversidade de fogos, que haviam preparado (...) se não o mais rico espetáculo a vista, ao menos o mais afetuoso ao objeto adorável de todas as oblações, respeito. O Ex.mo.  tenente general tendo aqui assistido e concluído este ato de júbilo, se dirigiu a Praça dando pela Legião de São Paulo foram oferecidas várias contra-danças, e cavalhadas[4] burlescas, que aos repetidos estrondos das Salsas publicaram a maior satisfação e prazer. Toda via o dia 24 o mais lindo, que tem raiado neste horizonte fez o cúmulo do geral, e perfeito contentamento. Ás 9 horas do dia se celebrou missa cantada, seguida de uma oração que bem desempenhou o caráter virtuoso do nosso Amabilíssimo Soberano. Neste mesmo dia as duas horas da tarde uma Companhia de Caçadores da Divisão de Voluntários Reais d’El Rei (...) executaram todas aquelas delicadas manobras, que se deviam esperar de tropa tão disciplinada; diferentes formas de combate tanto na ordem unida, como estendida ali se viram executar com satisfação de todos os militares (...)

Ao serrar da noite nosso espetáculo aparece ascendendo outra vez o mesmo júbilo, um teatro[5] ataviado se não com mais rico aparato pelo menos com os enfeites de mimoso gosto e elegante perspetiva (?) (...) nele se pôs em cena o ato de Taciel, se bem que impróprio de um dia de tanta gala; porém único achado neste Campo e desempenhado por indivíduos do Regimento dos Dragões (...)

O dia 29 de junho o nome de S. Alteza o Sereníssimo Senhor Príncipe Real D. Pedro influindo igualmente o ânimo de toda a tropa, e vassalos de tão Augusto Senhor induziu a repetição da peça de Taciel, que então melhor ensaiada apareceu em cena com todo esplendor das preciosas idéias do deu compositor admirável (...)

É de minha grande obrigação confessar que o tenente general comandante com o seu admirável exemplo cooperou com maior desvelo e incansável atividade para o arranjamento de tal execução. Sua autoridade acompanhada dos sobrantes desejos que manifestou abriu todas as portas às maiores dificuldades.

Campamento da Real Bragança 4 d’julho de 1819.

O Ten.Cor.el. Manuel Carneiro da Silva e (ilegível)

Ajud.e  de Ordens d

 

[1] FESTEJOS COLONIAIS: no primeiro século da colonização, as festividades seguiam os rituais religiosos do calendário cristão e movimentavam toda a população, caracterizando-se por uma europeização dos costumes nas terras americanas. Ocupando posição de destaque na sociedade, as festas integravam diferentes estratos sociais, etnias e religiosidades no Brasil colonial. De uma maneira geral, as festas dividiam-se entre as religiosas e as públicas: as religiosas dedicavam-se ao culto a Jesus Cristo (nascimento, morte e ressurreição) e aos santos padroeiros e mártires, sendo promovidas pelas igrejas e irmandades; já as públicas eram organizadas pelas autoridades portuguesas e coloniais, celebrando, sobretudo, a coroação de reis, batismos e casamentos dos membros da família real. Tais festejos podem ser vistos como um modo de consolidar os vínculos coloniais, fortalecendo a monarquia e sua burocracia. Eram também uma forma de introjetar a cultura católica no seio de uma sociedade mestiça, disseminando as práticas e costumes brancos, estimulando a devoção popular. O poder exercido através das festas acontecia em tal grau, que a recusa em participar destes eventos poderia resultar em acusações de heresias ou subversões, coagindo a participação efetiva de todos os membros da comunidade. As festividades, religiosas e públicas, serviam também como momento da manifestação de rebeldia e protesto contra os poderosos. No entanto, dentro deste espaço delimitado, possibilitava a manutenção da ordem colonial. Aos poucos, as festividades foram abrindo espaço para o lúdico e o profano, seduzindo cada vez mais os colonos. Entre as principais manifestações, estavam as festas do calendário religioso (abarcando cerca de um terço do ano), as congadas negras e as cavalhadas dos brancos luso-brasileiros (representação da rivalidade entre mouros e cristãos).

[2] JOÃO VI, D. (1767-1826): segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, se tornou herdeiro da Coroa com a morte do seu irmão primogênito, d. José, em 1788. Em 1785, casou-se com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do herdeiro do trono espanhol, Carlos IV que, na época, tinha apenas dez anos de idade. Tiveram nove filhos, entre eles d. Pedro, futuro imperador do Brasil. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada incapaz. Um dos últimos representantes do absolutismo, d. João VI viveu num período tumultuado. Foi sob o governo do então príncipe regente que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência dessa invasão, a família real e a Corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da Real Biblioteca; criação de escolas e academias e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, retornou com a Corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente.

[3]PEDRO I, D. (1798-1834): batizado como Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, d. Pedro I era filho de d. João VI e de d. Carlota Joaquina. Tornou-se herdeiro da Coroa portuguesa após a morte do primogênito Antônio, recebendo o título de príncipe real no mesmo ano da sagração de d. João como rei de Portugal, em 1816. Casou-se com a arquiduquesa da Áustria, Carolina Josefa Leopoldina em 1817, que veio a falecer no Brasil nove anos depois. Contraiu segundas? núpcias com a duquesa alemã Amélia Augusta em 1829. Com o retorno da família real a Portugal, em 1821, d. Pedro tornou-se príncipe regente do Brasil. Os planos políticos que as cortes de Lisboa destinavam ao Brasil levaram d. Pedro a romper definitivamente com Portugal, proclamando a independência do Brasil em setembro de 1822, quando foi sagrado e coroado imperador e defensor perpétuo do Brasil. O reinado de d. Pedro I (1822-1831) foi marcado por acontecimentos importantes como a convocação e dissolução da Assembleia Constituinte (1823); a outorga da primeira constituição do Brasil (1824); a criação do Conselho de Estado e a Guerra Cisplatina (1825-1828). Com a morte de d. João, em 1826, d. Pedro ascendeu ao trono, recebendo o título de Pedro IV. Forçado a abdicar em favor de sua filha primogênita, Maria da Glória, nomeou seu irmão d. Miguel como regente. Em 1831, foi a vez de d. Pedro abdicar do trono no Brasil, em favor do seu filho Pedro de Alcântara. A esta altura o monarca já havia dado várias demonstrações de seu caráter autoritário, a exemplo da dissolução da Assembleia Legislativa e do afastamento dos irmãos Andrada do governo por defenderem ideias consideradas radicais como o fim da escravidão e a limitação dos poderes do imperador. Os empréstimos com a Inglaterra, conflitos internos e a Guerra da Cisplatina agravaram a situação financeira do recém-criado Império, além das disputas entre os grupos políticos formados pelos partidos português, brasileiro e radical, que incendiavam ainda mais o contexto instável do governo e contribuíam para a impopularidade do imperador que, também no aspecto pessoal, era visto como boêmio e mantinha um famoso caso extraconjugal com a marquesa de Santos. Todos esses fatores levaram à abdicação do trono brasileiro e, ao regressar a Portugal, d. Pedro assumiu a liderança nas lutas contra seu irmão pelo trono. Amante da música, d. Pedro I compôs o hino da Carta (posteriormente adotado como hino nacional português até 1910) e o hino da independência do Brasil. Morreu tuberculoso em 1834.

[4] FESTA JUNINA: tem origem em rituais de origem pagã, ocorridos no hemisfério norte durante o solstício de verão, que pediam fartura nas colheitas. Foram incorporados, por volta do século X, pela Igreja Católica, em homenagem aos santos Antônio, João e Pedro (comemorados, respectivamente, nos dias 13, 24 e 29 de junho). Estas festas foram gradativamente se popularizando e sua elaboração contava com farta comida, fogueiras – conforme a tradição indicando o nascimento de São João – danças típicas e folguedos, entre os quais o pau-de-sebo, o quebra-pote e a trança fita. No Brasil, costumes indígenas foram incorporados pelas festas trazidas pelos portugueses, o que explica as festas tanto celebrarem santos católicos, como oferecerem uma variedade de pratos feitos com alimentos típicos dos nativos.

[5] CAVALHADAS: folguedo popular que envolvia uma espécie de justa ou torneio, do qual participavam os fazendeiros que faziam desfilar animais ricamente enfeitados. A cavalhada apresentava um tema religioso cuja finalidade era transmitir a lição cristã de que o bem vence o mal. Para tanto, dispunha de duas partes: uma encenação teatral e a brincadeira. Na primeira parte, era encenado o confronto entre o bem e o mal, representados, respectivamente, pelos cristãos e pelos mouros, tendo como figura central o rei cristão Carlos Magno. Para enfatizar essa eterna luta, os cristãos vestiam-se de azul, simbolizando o céu, enquanto os mouros vestiam-se de vermelho, simbolizando o inferno. A segunda parte compunha-se de jogos, nos quais os participantes deveriam mostrar sua perícia como cavaleiros. O principal jogo era o da argolinha, que exigia velocidade e destreza dos participantes e resultava na conquista de uma argolinha de ouro, prenda oferecida à namorada, noiva ou esposa.

[6] TEATRO: o teatro teve sua origem na Grécia antiga, decorrente das manifestações em louvor a Dionísio, o deus do vinho. Com o advento do Império romano, o teatro espalhou-se pelo mundo. A despeito das diversas épocas que atravessou e dos variados estilos que desenvolveu, tornou-se um relevante veículo de divulgação de ideias, fossem elas religiosas ou políticas. Na América portuguesa, o teatro foi introduzido pelos primeiros colonos e, desde o início, representou mais do que arte e entretenimento. Utilizado como um instrumento de auxílio para os jesuítas na conversão dos infiéis, assumiu um viés mais pedagógico, para ensinar aos pagãos algumas noções da moral cristã, como pecado e arrependimento. Dessa forma, atuou como veículo de pregação e convencimento na catequese dos índios. O Auto de Santiago (1564), escrito pelo padre jesuíta José de Anchieta (1534-1597), é considerado a primeira peça apresentada no Brasil. Ao longo do século XVII, a temática religiosa permaneceu, mas de uma outra forma. Segundo Rogério Burasz (2008), nesse período, a liturgia católica barroca tinha uma natureza dramática, uma forma quase teatral de devoção, caracterizada por festas, procissões, músicas e encenações. Na falta do espaço físico do teatro, as igrejas cumpriam esse papel e o público-alvo já não era primariamente o índio, mas toda a população. Para as procissões e autos, que ganhavam as ruas e contavam com grande participação popular, foram criados cenários móveis, marionetes, elementos cênicos e as famosas estátuas de roca – imagens sacras de madeira, vestidas com trajes de tecido. Ao lado das manifestações religiosas, temas ligados a festas populares e acontecimentos políticos começam a emergir, como exemplo, as comédias apresentadas nos eventos de aclamação a d. João IV, em 1641. As ruas das cidades e vilas tornam-se locais para representações de comédias e tragédias, geralmente encenadas em tablados ou palcos improvisados ao ar livre. Só na segunda metade do século XVIII, as primeiras casas da ópera seriam abertas no Rio de Janeiro, São Paulo, Ouro Preto, Belém, Salvador e em outros centros urbanos. Numa tentativa de conferir certo grau de civilização e modernidade à colônia portuguesa, essas casas de espetáculos exibiam as novas tendências teatrais que vinham de Portugal, com a introdução da ópera italiana, com repertórios, basicamente, importados da Europa. Em suas Memórias da rua do Ouvidor, Joaquim Manoel de Macedo diria das óperas: “Talvez que alguns pensem que a lamentável falta de bom teatro dramático seja de pouca importância. Possivelmente assim não é. No teatro, pode-se tomar o pulso à civilização e à capacidade moral do povo de um país”. Tanto no século XVIII quanto no XIX – quando a vinda da família real representou um estímulo à construção de novos teatros no Brasil – além de local de entretenimento, essas casas serviam como novos espaços de sociabilidade, criando oportunidades de interação social, anteriormente circunscritas, sobretudo, à igreja. Os teatros ganham importância, levando a uma maior profissionalização das companhias dramáticas, destaque para aquela dirigida por João Caetano. Os divertimentos públicos se intensificariam durante o período joanino, e os espetáculos teatrais faziam parte da nova sociabilidade cortesã.

Sugestões de uso em sala de aula:

Utilização(ões) possível(is):

- O trabalhar o tema transversal “pluralidade cultural”
- No eixo temático sobre a “História das representações e das relações de poder”
 

Ao tratar dos seguintes conteúdos:

- O Homem e a Cultura
- A sociedade colonial: movimentos religiosos e culturais
- Brasil colonial: religião e sociedade

Funerais de D. José I

Os funerais do rei dom José I foram descritos nesses documentos, desde o vestuário até a realização da solenidade. Relata a elaboração do todo o cerimonial, dando instruções do papel a ser desempenhado por cada membro participante do funeral. A partir deste documento é possível dimensionar a importância marcante do ritual que acompanhava toda a trajetória dos indivíduos na colônia. As funções – o que se reflete na ordem a ser seguida na procissão – foram objeto de regulamentação nas Câmaras, delegadas a cada membro da cerimônia, possuíam um simbolismo que demarcava a posição hierárquica de poder e prestígio dos súditos reais.

 

Conjunto documental: Secretaria de Estado do Ministério do Reino

Notação: Caixa 735, pct 01

Datas – limite: 1735 - 1813

Título do fundo: Negócios de Portugal

Código do fundo: 59

Argumento de pesquisa: festas oficiais

Data do documento: 23 a 25 de Fevereiro de 1777.

Local: Lisboa.

Folha (s): -

 

Leia esse documento na íntegra

“Para o marquês de Tancos

 

Forma de Acompanhamento do Corpo do Augustíssimo Senhor d. José[1]

 

1º) O Corpo do Augustíssimo Senhor Rei d. José I há de ser sepultado na Igreja de São Vicente de Fora[2].

 

2º) Há de sair do Paço ... e dirigir-se à Ponte de Alcântara: dela à Esperança: daí pela Boa Vista ao Arsenal: daí pela Ribeira ao Cais do Carvão: dele ao Cais dos Moiros, e Praça do Arsenal Real do Exército: dele subindo pela calçada nova às Portas da Cruz: delas pela Estrada tão bem ultimamente aberta ao Campo de Santa Clara, e por ele ao Largo da Igreja de S. Vicente de Fora.

 

3º) Em primeiro lugar hão de ir seis Porteiros da Cana a Cavalo com suas canas.

 

4º) Em segundo lugar os dois Corregedores do Crime da Corte.

 

5º) Logo se seguirão os Títulos Oficiais da Casa do Augustíssimo senhor rei d. José I, defunto, em duas alas; os títulos a mão direita, e os Oficiais a Esquerda com declaração, que os Oficiais da mesma Casa que levam insígnias hão de ir no meio das duas alas.

 

6º) Depois se seguirão os clérigos da Basílica Patriarcal da Santa Igreja de Lisboa.

 

7º) Segure-se á o coche com o corpo, entre os moços da Câmara, a pé, com as suas tochas acesas: E virão também os Moços da Estribeira a pé, no lugar que lhes toca, mas sem tochas.

 

8º) Adiante do coche irá V. Ex.as, com o Mordomo Mór, com a sua insígnia; seguindo-se o marquês de Angeja, que vai servindo de Reposteiro Mór.

 

9º) A ilharga do mesmo coche há de ir o marquês Estribeiro Mór: tendo advertência que o pescoço do cavalo, em que for, há de ir junto à última roda do coche.

 

10º) Logo se seguirá o Coche de Respeito, e irá coberto com um pano de veludo preto, na mesma forma, em que há de ir coberto o coche em que vai o Corpo.

 

11º) Os Capitães da Guarda Real, o conde de Resende[3], e o conde de Pombeiro, hão de ir atrás do Estribeiro Mór separados dele.

 

12º) As duas Companhias da Guarda dos Arqueiros hão de ir formadas no lugar onde lhes toca, acompanhando desde o Paço até a Igreja de São Vicente de Fora.

 

13º) Os Presidentes dos Tribunais, Conselheiros e Fidalgos, que não forem Títulos, e quiserem acompanhar, o farão indo a cavalo com os mais nos lugares que costumam ter em semelhantes acompanhamentos.

 

14º) Procurar-se-á que o acompanhamento vá composto nesta forma em duas alas, por não haver confusão; e que as Religiões, e Cleros estejam arrumados, para que pelo meio possa passar o Enterro.

 

Para o Patriarca Eleito de Lisboa

Em.mo e R mo Snr.

 

 Sua Majestade é servida que V. Emcia ordene ao Cura da Santa Igreja de Lisboa[4], ou a quem seu cargo servir, que no dia hoje haja de transportar particularmente os Intestinos do Augustíssimo senhor rei dom José 1º que Deus chamou à Sua Santa Glória á sobredita Igreja: E que nela ache aberta e pronta, a cova em que os referidos Intestinos hão de ser sepultados: sendo tirados do coche e levados a ela, pelos Clérigos Beneficiados, que V. Emcia nomear. E ao marquês Estribeiro Mor se avisa para que mande logo aprontar o coche em que se deve fazer a dita condução.

Deus Guarde a V.Em.cia Paço em 24 de fevereiro de 1777.

//Ayres de Sá Mello//

Termo

Da Entrega do Cadáver do Augustíssimo Senhor Rei d. José Primeiro

Aos vinte e seis dias do mês de Fevereiro do Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e setenta e sete, nesta Santa Igreja Patriarcal, citando ali os presentes o marquês de Tancos dom Duarte Antônio da Câmara, do Conselho de Guerra, Gentil-homem da Câmara de Sua Mag.e , e Tenente General dos seus Exércitos, que foi nomeado pela rainha nossa senhora para exercitar o cargo de Mordomo Mor nos Atos Cerimoniais do Acompanhamento e Enterro do corpo do Augustíssimo senhor rei dom José 1º que Deus chamou à Bem Aventurança. O senhor dom João, do Conselho de Estado, Mordomo Mor da casa da sereníssima senhora rainha mãe, e Capitão General dos Galeões de Alto Borto do Mar Oceano. O marquês de Penalva Manoel Telles da Silva, do Conselho de Sua Mag.e , e Deputado da Junta dos Três Estados; o marquês de Fronteira dom Jozé Luis Mascarenhas, do Conselho de Sua Mag.e , e Veador da Casa da Rainha Nossa Senhora; o marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Mello[5], dos Conselhos de Estado e Gabinete, Inspetor Geral do Real Erário, e nesse lugar Tenente junto á Real Pessoa de El Rei Nosso Senhor, e seu Plenipotenciário, Visitador e Lugar Tentente a sua Real Pessoa na Fundação da Universidade de Coimbra[6]; o marquês das Minas d. Lourenço José dos Brotos e Lancastre, do Conselho de Sua Mag.e , Gentil-homem de sua Câmara, e Marechal de Campo dos seus Exércitos; o conde de Redondo Fernando de Souza Coutinho Castello Branco e Menezes, do Conselho de Sua Mag.e e Marechal de Campo de seus Exércitos; o conde de Val Reis Lourenço Filippe de Mendonça e Moura do Conselho de Sua Mag.e  Estribeiro Mor da Sereníssima Senhora Rainha-Mãe; o conde de S. Lourenço Antonio Maria César de Mello e Silva, do Conselho de sua Mag.e e Tenente Coronel do Regimento da Cavalaria do Cais; o visconde de Villa Nova da Cerveira d. Thomas de Lima, do Conselho de Sua Mag.e e Veador da Casa da Sereníssima Senhora Rainha-Mãe: E achando-se também presente d. Fernando de Souza da Silva, Principal Vigário Capitular, e Patriarca Eleito da Santa Igreja de Lisboa: logo pelo referido marquês de Tancos Mordomo Mor, foi entregue ao dito Patriarca Eleito um caixão guarnecido por fora de veludo negro liso, com uma grande Cruz de lustrina de oiro branca em cima; cercado com galões de oiro, e cravado com pregos dourados; com três fechaduras todas da mesma parte; e com dez argolas douradas, tudo uniformemente fabricado, e forrado por dentro o sobredito caixão de ilhama branca de prata; em que disse ele marquês de Tancos, e jurou aos Santos Evangélicos, em que pôs as mãos, que se achava fechado outro caixão de chumbo, que guardava o Corpo do Muito Alto, e Muito Poderoso senhor rei dom José 1º o qual em o dia vinte e três do corrente mês de Fevereiro, aos vinte e três minutos depois da meia-noite, faleceu da vida o presente no Palácio de Nossa Senhora D’Ajuda[7]: E que ele dito marquês de Tancos, o vira, e o reconhecera ao fechar do mesmo Caixão; havendo consigo as chaves dele, e acompanhando-o sempre junto dele, sem perder de vista, com as mais pessoas acima nomeadas: E pelo mesmo Patriarca Eleito da Santa Igreja de Lisboa foi dito que ele se dava por entregue do dito Caixão e Corpo nele depositado; e se obrigou por si e seus ilegível} no lugar, a dar sempre conta do mesmo Augusto Cadáver, ou dos Ossos dele; ficando em seu poder uma das chaves do mesmo caixão, e as outras na mão dele marquês de Tancos, para se guardarem onde pertencerem. Do que eu, Ayres de Sá Mello, por especial Ordem de Sua Mag.e , fiz lavrar dois termos deste mesmo teor; um para se remeter ao Real Arquivo da Torre do Tombo[8], e outro para ficar na Secretaria d´Estado: e ambos foram assinados por todos os acima nomeados: com a declaração porém que em lugar do marquês de Pombal, que se escusou por moléstia, e pegou e assinou o conde de Soure, d. João Antonio Francisco d.ingo Bento da Costa Carvalho Patalim, do Conselho de Sua Mag.e , Tenente General dos seus Exércitos, e Provedor das Obras dos Paços Reais. Feito tudo na Santa Igreja Patriarcal, e no mesmo dia, mês e ano que fica declarado, e no princípio deste termo escrito.

 

//Ayres de Sá e Mello//

 

Marquês de Tancos//Marquês de Penalva// Marquês das Minas//Conde de Santiago//Conde de S. Lourenço//Visconde de Villa Nova da Cerviera//D. João// Marquês de Fronteira//Conde de Redondo//

Conde de Val de Reis//Conde de Soure//F. Patriarca Eleito//

 

 Para o marquês de Lavradio[9]

Ill.mo e Ex.mo Snr.

 

Em a noite do dia de ontem, pela meia-noite e 23 minutos, chamou Deus a Sua Santa Glória o Augustíssimo senhor rei dom José 1º depois de muitos e fervorosos atos de católica resignação. E a rainha nossa senhora manda participar V. Ex.a esta infanta notícia, para que V. Ex.a concorra pela sua parte, e pelo que lhe pertence, para as demonstrações do justo sentimento de tão grande perda: ordenando que nas Praças e Terras desse Governo mande V. Ex.a fazer todas as honras fúnebres que se costumam fazer em semelhantes ocasiões: E o luto geral que a mesmo Senhora mandou que se tomasse, há de ser por tempo de um ano; seis meses rigorosos, e seis aliviados; não obstante o cap.o 17 da Pragmatica de 24 de Maio de 1749. O que V. Ex.a fará assim executar.

 

Deus Guarde a V. Ex.a Palácio Nossa Senhora D’Ajuda em 25 de Fevereiro de 1777.

 

//Martinho de Mello e Castro[10]//

 

[1] JOSÉ I, D. (1714-1777): sucessor de d. João V, foi aclamado rei em setembro de 1750, tendo sido o único rei de Portugal a receber este título. Considerado um déspota esclarecido – monarcas que, embora fortalecessem o poder do Estado por eles corporificado, sofriam intensa influência dos ideais progressistas e racionalistas do iluminismo, em especial no campo das políticas econômicas e administrativas – ficou conhecido como o Reformador devido às reformas políticas, educacionais e econômicas propostas e/ou executadas naquele reinado. O governo de d. José I destacou-se, sobretudo, pela atuação do seu secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, marquês de Pombal, que liderou uma série de reestruturações em Portugal e seus domínios. Suas reformas buscavam racionalizar a administração e otimizar a arrecadação e a exploração das riquezas e comércio coloniais. Sob seu reinado deu-se a reconstrução da parte baixa de Lisboa, atingida por um terremoto em 1755, a expulsão dos jesuítas do Reino e domínios ultramarinos em 1759, a guerra guaranítica (1754-56) contra os jesuítas e os índios guaranis dos Sete Povos das Missões, a assinatura do Tratado de Madri (1750), entre Portugal e Espanha que substituiu o Tratado de Tordesilhas, entre outros. Em termos administrativos, destacam-se a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro, a criação do Erário Régio e a divisão do antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão em dois: Maranhão e Piauí, e Grão-Pará e Rio Negro.

[2] IGREJA DE SÃO VICENTE DE FORA: igreja de estilo maneirista dedicada ao padroeiro da cidade, localizada no bairro da Alfama em Lisboa, construída entre 1582-1627, durante o período da União Ibérica, no reinado filipino, foi erguida sobre o local onde d. Afonso Henriques mandou construir um templo primitivo dedicado a São Vicente. A denominação “de fora” remete ao fato de a igreja ter sido construída fora das muralhas de Lisboa. Projeto e construção atribuídos a Filipo Terzi, Juan de Herrera e Baltasar Álvares, a planta é em formato retangular, com fachada em estilo italiano, com duas torres simétricas e estátuas de Santo Agostinho, São Sebastião e São Vicente na fachada. Destacam-se também os painéis de azulejo do século XVIII no interior da igreja e no mosteiro anexo. Na igreja também se encontram os panteões da Casa Real dos Bragança e dos patriarcas de Lisboa.

[3] CASTRO, D. JOSÉ LUÍS DE (1744-1819): 2º conde de Resende foi governador e capitão-general da Bahia de 1788 a 1801, de onde seguiu para o Rio de Janeiro como vice-rei do Estado do Brasil até 1806. Considerado um administrador colonial com baixa popularidade, durante sua administração ocorreram a Conjuração Mineira e o julgamento e condenação dos envolvidos, dentre eles, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, preso, enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro. Foi responsável também pelo fechamento e pela devassa da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, academia voltada para literatura e filosofia natural, acusada pela sedição conhecida como a Conjuração do Rio de Janeiro, ocorrida em 1794. A administração de conde de Resende contribuiu para a urbanização da cidade do Rio de Janeiro e melhoria das condições sanitárias. Em relação à iluminação pública, instalou lamparinas com óleo de peixe, criou o primeiro Regulamento de Higiene, em 1797, e acabou com o despejo sanitário no Campo de Santana, aterrando a área contaminada e transformando-a em um grande “rossio”. Concluiu a reforma do Paço dos Vice-Reis, entre outras importantes obras de canalização e distribuição de água. Em 1792, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho foi criada, instituição encarregada da formação de engenheiros militares no país. A nomeação como Marechal de Campo, em 1795, sugere que atuou nas guerras contra a França, entre 1793 e 1795, concomitantemente com o vice-reinado. De volta a Portugal, foi nomeado Conselheiro de Guerra e recebeu a Grã-Cruz da Ordem de São Bento de Avis.

[4] CURA DA SANTA IGREJA DE LISBOA: trata-se do vigário da Santa Igreja de Lisboa.

[5] MELO, SEBASTIÃO JOSÉ DE CARVALHO E (1699-1782): estadista português, nascido em Lisboa, destacou-se como principal ministro no reinado de d. José I (1750-1777). Filho do fidalgo da Casa Real Manuel de Carvalho e Ataíde e de d. Teresa Luísa de Mendonça e Melo, Sebastião José de Carvalho e Melo frequentou a Universidade de Coimbra; foi sócio da Academia Real da História Portuguesa (1733); ministro plenipotenciário de Portugal em Londres e Viena entre os anos de 1738 e 1749, sendo nomeado secretário de Estado dos Negócios do Reino de Portugal com a ascensão de d. José I ao poder. Ficou no governo durante 27 anos, período em que realizou uma série de reformas que alteraram sobremaneira a natureza do Estado português. As reformas pombalinas, como ficaram conhecidas, em consonância com a Ilustração ibérica, marcaram um período da história luso-brasileira, caracterizadas pelo despotismo esclarecido de Pombal – uma conciliação entre a política absolutista e os ideais do Iluminismo. Preocupado em modernizar o Estado português e tirar o Império do atraso econômico em relação a outras potências europeias, o primeiro-ministro buscou reestabelecer o controle das finanças, controlando todo comércio ultramarino, além de fortalecer o poder estatal, consolidando a supremacia da Coroa perante a nobreza e a Igreja. Entre as principais medidas empreendidas por Pombal durante seu governo, podemos destacar: a criação de companhias de comércio, como a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778) e a de Pernambuco e Paraíba (1759-1780); a expulsão dos jesuítas do reino e domínios portugueses (1759); a reorganização do exército; a transferência da capital do Estado do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro (1763) e a reforma do ensino, em especial a da Universidade de Coimbra (1772). Pombal sobressaiu-se, ainda, por ter sido o responsável pela reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755. Foi agraciado com o título de conde de Oeiras, em 1759, e de marquês de Pombal em 1769. Com a morte de d. José I e a consequente coroação de d. Maria I, Pombal foi afastado de suas funções e condenado ao desterro. Em decorrência de sua idade avançada, Carvalho e Melo recolheu-se à sua Quinta de Oeiras, onde permaneceu até sua morte.

[6] UNIVERSIDADE DE COIMBRA: fundada em 1290 por d. Dinis, foi a principal instituição responsável pela formação acadêmica da elite do Império português, proveniente da metrópole ou da colônia. Desde 1565, esteve sob a direção dos padres jesuítas e, em 1772, durante a administração do marquês de Pombal, ministro de d. José I, sofreu sua principal e mais significativa reforma. A renovação da Universidade resultou na elaboração de novos estatutos e fazia parte de um plano mais geral de reforma do ensino em Portugal e seus domínios, iniciada em 1759. A reforma educacional pombalina teve como principal diretriz a expulsão dos jesuítas de todo Império lusitano e, conforme os estatutos, “abolir e desterrar não somente da Universidade, mas de todas as Escolas públicas (...) a Filosofia Escolástica” que era atribuída aos árabes e aos comentadores de Aristóteles, aos quais eram associados os jesuítas. O processo educativo pedagógico, governado, anteriormente, pelos inacianos, seria substituído por um sistema público de ensino. Num primeiro momento, apenas os Estudos Menores (ensino elementar e médio) sofreram grandes mudanças, deixando-se os Estudos Maiores (superior) para um período posterior, quando a nova base da instrução estivesse organizada. Em 1771 d. José formou a Junta da Providência Literária, cuja principal missão seria a avaliação do estado da universidade durante o período em que esteve sob administração dos jesuítas e a proposição de mudanças, a fim de melhorar o ensino, conforme sua orientação. Os resultados dessa avaliação foram reunidos no Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra. Tratava-se do primeiro documento originário da Junta de Providência Literária, apresentado ao rei pela Real Mesa Censória e que daria sustentação, no ano seguinte, aos Novos Estatutos da Universidade de Coimbra, publicados em 1772. Segundo Nívia Pombo, “seu conteúdo reiterava a primeira lição a ser aprendida: a ideia de que o Estado deveria se aproveitar das novidades das ciências e das artes e colocá-las a serviço da sociedade. Tal aspecto aparece bem marcado com a recorrência das expressões “necessidade pública” e “nações civilizadas”, associadas à noção de que o “exame da Natureza” promovia “imensas utilidades em benefício das Famílias, e dos Estados” (Nívia Pombo. A cidade, a universidade e o Império: Coimbra e a formação das elites dirigentes (séculos XVII-XVIII). Intellèctus, ano XIV, n. 2, 2015. Acesso: https://www.e-publicacoes.uerj.br). A diretriz geral da reforma seria, por conseguinte, a secularização e a modernização do ensino superior, na busca por um conhecimento mais técnico, crítico e pragmático, orientado pelos princípios das luzes e da ciência [iluminismo], para a formação de cidadãos “úteis” ao Estado e à administração pública. Deste modo, foram reformuladas as faculdades de Filosofia e de Matemática; introduzidos os laboratórios para aulas práticas; a organização dos cursos e das disciplinas foi alterada, de modo a seguir um novo método; toda a metodologia de ensino e os compêndios usados pelos jesuítas foram proibidos e substituídos e a duração das aulas e dos cursos foi encurtada. Os professores religiosos deveriam ser paulatinamente substituídos por leigos escolhidos por seleção pública. Evidenciando o viés do ensino prático, foram criados, em paralelo, o Teatro Anatômico, o Observatório Astronômico, o Horto Botânico, o Museu de História Natural, o Laboratório de Física e o Dispensatório Farmacêutico. Para realizar a reforma foi nomeado d. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, intitulado bispo reformador da Universidade de Coimbra, natural do Rio de Janeiro, que ficou à frente da sua administração entre 1770 e 1779 (e depois entre 1799 e 1821) e que executou a reforma, nos moldes dos novos estatutos. A partir de então, a reformada Universidade de Coimbra passou a ser referência e modelo para as instituições de ensino existentes na época e as posteriormente criadas.

[7] PALÁCIO REAL DA AJUDA: foi construído em Lisboa, no século XVIII, em função da destruição do Paço da Ribeira, então sede do governo, causada pelo terremoto de 1755, durante o reinado de d. José I. O Palácio da Ajuda foi edificado em madeira para melhor resistir aos abalos sísmicos e serviu residência oficial da monarquia portuguesa durante cerca de três décadas. Durante seu governo, marquês de Pombal mandou construir à volta do palácio o primeiro jardim botânico de Portugal. Em 1794, um incêndio destruiu por completo a habitação real e outro palácio em pedra e cal foi projetado. A construção do novo palácio se estendeu por mais de sessenta anos, durante os quais o palácio ora serviu de residência real (quando monarcas escolhiam alas já habitáveis do palácio como moradia), ora assumia plano secundário. As obras na estrutura do edifício foram concluídas em 1861, durante o reinado de d. Luís I.

[8] REAL ARQUIVO DA TORRE DO TOMBO: arquivo instituído na Torre do Tombo do Castelo de Lisboa no século XIV. A Torre do Tombo, durante o Antigo Regime, foi essencialmente composta do arquivo do rei, ou da Coroa, sendo o lugar onde se guardavam todos os tipos de registros oficiais, tais como: tombos de registro e demarcação de bens e direitos, documentos da Fazenda, capítulos das Cortes, livros de chancelaria, registros de instituição de morgados e capelas, testamentos, forais, sentenças do juiz dos feitos da Coroa, bulas papais, tratados internacionais, correspondência régia e outros documentos. Desde 1378, o mais importante arquivo português denomina-se Torre do Tombo, uma vez que os principais documentos que o rei mandava guardar – o Recabedo Regni, ou Livro do Tombo, onde se registravam as suas propriedades e direitos – localizavam-se na torre albarrã, do castelo de São Jorge, em Lisboa. Em 1755, esta torre foi destruída no terremoto que abalou Lisboa, sendo o arquivo acomodado, provisoriamente, em parte do mosteiro de São Bento, onde hoje está o edifício da Assembleia da República. A invasão das tropas bonapartistas em 1807 colocou em risco os arquivos portugueses, com o embarque dos fundos de secretarias de governo para o Brasil. Os arquivos da Torre do Tombo permaneceram no reino, mas foram selecionados e encaixotados diante da reentrada dos franceses em 1809 e da ameaça de tomada de Lisboa no ano seguinte, quando se discutiu que documentos deveriam ser embarcados para o Rio de Janeiro. Afastados esses riscos esses arquivos não foram afinal deslocados para a colônia (MARTINS, Ana Canas Delgado. Governação e arquivos: d. João VI no Brasil. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais, [2007]). Na década de 1990, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo foi transferido para um moderno edifício-sede, com amplas instalações, na cidade universitária de Lisboa.

[9] MASCARENHAS, D. LUÍS DE ALMEIDA PORTUGAL SOARES ALARCÃO D' EÇA E MELO SILVA E (1729-1790) - MARQUÊS DO LAVRADIO: 5º conde de Avintes e 2º marquês do Lavradio era filho do 1.º marquês do mesmo título d. Antônio de Almeida Soares e Portugal e de d. Francisca das Chagas Mascarenhas. Governador da Bahia entre 1768 e 1769, conseguiu neste curto período apaziguar os conflitos entre as autoridades locais e restabelecer a ordem na guarnição de Salvador. Sua forma de governar se pautava pela prudência na utilização dos recursos procurando manter suas contas sob estrito controle. Foi nomeado décimo primeiro vice-rei do Brasil em 1769, e seu governo durou 10 anos. Durante este período, a cidade colonial do Rio de Janeiro, que abrigava a sede do vice-reinado, passou por uma série de melhorias, como o aterro de pântanos e lagoas que prejudicavam a qualidade do ar, calçamento e abertura de ruas na parte central (inclusive a que leva seu nome), além de incentivos à produção local de alguns itens como o café e o vinho. Também foi responsável pela fundação da Academia Científica, em 1772, obedecendo à política pombalina de fomento às atividades científicas, que incluiu a remessa de coleções de História Natural e a criação de um horto botânico na cidade. No entanto, ao longo de seu governo, medidas impopulares, implementadas por ordem direta da metrópole, foram adotadas, como: o cumprimento das leis do Livro da Capa Verde do Distrito Diamantino – regulamentação da exploração de diamantes na colônia, editado por iniciativa do marquês de Pombal – e a extinção da Companhia de Jesus. Foi também durante sua administração que a situação de crescente instabilidade na região do Rio da Prata, com ocasionais conflitos armados entre forças espanholas e lusas, demandou providências para contornar a situação, como iniciativas de povoamento da região sul do Brasil e a construção de fortalezas na região, com o envio de guarnições. Em 1779, dois anos depois do falecimento do rei d. José I, o marquês do Lavradio deixou o governo do Brasil, sendo substituído por Luís de Vasconcelos e Sousa. De volta a Portugal, tornou-se conselheiro da Guerra, presidente do Desembargo do Paço, inspetor-geral das tropas do Alentejo e Algarve, veador da rainha e recebeu a Grã Cruz da Ordem de Cristo. A correspondência trocada por ele com outras autoridades e membros da nobreza em Portugal gerou as Cartas da Bahia (1768 a 1769), e as Cartas do Rio de Janeiro (1769-1770) publicadas pelo Arquivo Nacional. A instituição conserva ainda o fundo privado Marquês do Lavradio em seu acervo.

[10] CASTRO, MARTINHO DE MELO E (1716-1795): nascido em Lisboa, foi secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos de 1770 até sua morte. Estudou latinidade, filosofia e teologia na Universidade de Évora, além de direito canônico, em Coimbra, onde se formou bacharel em 1744. Diplomata, iniciou seus trabalhos em 1751, como embaixador em Haia, Holanda, e atuou de forma decisiva na solução de questões conflituosas entre Portugal e Inglaterra, decorrentes da Guerra dos Sete Anos, o que levou à sua nomeação para a Secretaria de Estado. Durante sua gestão como secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos, desempenhou papel central no planejamento e execução das viagens e expedições filosóficas às colônias portuguesas. Melo e Castro foi o principal agente da Coroa envolvido no planejamento das viagens e na interlocução com os naturalistas e administradores locais, com vistas à solução de problemas no decurso das expedições. O secretário foi, ainda, diretor do Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda e destinatário das remessas de produtos naturais provenientes das viagens, encaminhados aos museus de História Natural em Lisboa e Coimbra para sistematização, análise e classificação. Demonstrou habilidade na administração pública, muito embora seus escritos apontem que não foi um grande político ou teórico, não reconhecendo o início da crise do sistema colonial durante sua governação. Foi sob sua gestão que ocorreu a Conjuração Mineira (1789), tendo partido de Melo e Castro a ordem para que o governador da capitania de Minas Gerais, Luis Antonio Furtado de Castro, visconde de Barbacena, promovesse a devassa dos envolvidos.

Sugestões de uso em sala de aula:

Utilização(ões) possível(is):

- Ao trabalhar o tema transversal “pluralidade cultural”
- No eixo temático sobre a “História das representações e das relações de poder”

 
Ao tratar dos seguintes conteúdos:

- O Homem e a Cultura
- A sociedade colonial: movimentos religiosos e culturais
- Brasil colonial: sociedade de corte
- Brasil colonial: religião e sociedade

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