ULTRAMAR
Ultramar era o termo utilizado para se referir aos domínios ultramarinos, às possessões de além-mar, às terras conquistadas e colonizadas no período da expansão marítima e comercial europeia, ocorrida a partir do século XV. No caso português, as possessões coloniais espalhavam-se pelos continentes africano, americano e asiático, tendo como principais cidades Luanda e Benguela na África, Macau e Malaca na Ásia, e Rio de Janeiro e Salvador na América. Desse termo deriva por exemplo Conselho Ultramarino, órgão criado em 1642 visando uniformizar a administração do ultramar, competindo-lhe a gestão de todos os negócios referentes aos Estados do Brasil, Índia, Guiné, ilhas de São Tomé e Cabo Verde, e de todos os demais territórios em África vinculados a Portugal.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Fundada em 1290 por d. Dinis, foi a principal instituição responsável pela formação acadêmica da elite do Império português, proveniente da metrópole ou da colônia. Desde 1565, esteve sob a direção dos padres jesuítas e, em 1772, durante a administração do marquês de Pombal, ministro de d. José I, sofreu sua principal e mais significativa reforma. A renovação da Universidade resultou na elaboração de novos estatutos e fazia parte de um plano mais geral de reforma do ensino em Portugal e seus domínios, iniciada em 1759. A reforma educacional pombalina teve como principal diretriz a expulsão dos jesuítas de todo Império lusitano e, conforme os estatutos, “abolir e desterrar não somente da Universidade, mas de todas as Escolas públicas (...) a Filosofia Escolástica” que era atribuída aos árabes e aos comentadores de Aristóteles, aos quais eram associados os jesuítas. O processo educativo pedagógico, governado, anteriormente, pelos inacianos, seria substituído por um sistema público de ensino. Num primeiro momento, apenas os Estudos Menores (ensino elementar e médio) sofreram grandes mudanças, deixando-se os Estudos Maiores (superior) para um período posterior, quando a nova base da instrução estivesse organizada. Em 1771 d. José formou a Junta da Providência Literária, cuja principal missão seria a avaliação do estado da universidade durante o período em que esteve sob administração dos jesuítas e a proposição de mudanças, a fim de melhorar o ensino, conforme sua orientação. Os resultados dessa avaliação foram reunidos no Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra. Tratava-se do primeiro documento originário da Junta de Providência Literária, apresentado ao rei pela Real Mesa Censória e que daria sustentação, no ano seguinte, aos Novos Estatutos da Universidade de Coimbra, publicados em 1772. Segundo Nívia Pombo, “seu conteúdo reiterava a primeira lição a ser aprendida: a ideia de que o Estado deveria se aproveitar das novidades das ciências e das artes e colocá-las a serviço da sociedade. Tal aspecto aparece bem marcado com a recorrência das expressões “necessidade pública” e “nações civilizadas”, associadas à noção de que o “exame da Natureza” promovia “imensas utilidades em benefício das Famílias, e dos Estados” (Nívia Pombo. A cidade, a universidade e o Império: Coimbra e a formação das elites dirigentes (séculos XVII-XVIII). Intellèctus, ano XIV, n. 2, 2015. Acesso: https://www.e-publicacoes.uerj.br). A diretriz geral da reforma seria, por conseguinte, a secularização e a modernização do ensino superior, na busca por um conhecimento mais técnico, crítico e pragmático, orientado pelos princípios das luzes e da ciência [iluminismo], para a formação de cidadãos “úteis” ao Estado e à administração pública. Deste modo, foram reformuladas as faculdades de Filosofia e de Matemática; introduzidos os laboratórios para aulas práticas; a organização dos cursos e das disciplinas foi alterada, de modo a seguir um novo método; toda a metodologia de ensino e os compêndios usados pelos jesuítas foram proibidos e substituídos e a duração das aulas e dos cursos foi encurtada. Os professores religiosos deveriam ser paulatinamente substituídos por leigos escolhidos por seleção pública. Evidenciando o viés do ensino prático, foram criados, em paralelo, o Teatro Anatômico, o Observatório Astronômico, o Horto Botânico, o Museu de História Natural, o Laboratório de Física e o Dispensatório Farmacêutico. Para realizar a reforma foi nomeado d. Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, intitulado bispo reformador da Universidade de Coimbra, natural do Rio de Janeiro, que ficou à frente da sua administração entre 1770 e 1779 (e depois entre 1799 e 1821) e que executou a reforma, nos moldes dos novos estatutos. A partir de então, a reformada Universidade de Coimbra passou a ser referência e modelo para as instituições de ensino existentes na época e as posteriormente criadas.
UNIÃO DESTA PROVÍNCIA [PARÁ] À MÃE PÁTRIA
Desde os tempos coloniais, os obstáculos geográficos, a ausência de unidade e os interesses internos fizeram com que a administração da capitania do Pará se reportasse às regiões vizinhas ou diretamente a Portugal, no comércio ou em caso de alguma dificuldade. Textos na imprensa paraense ou panfletos, inclusive muitas vezes reproduzindo textos originários de outras províncias, ressaltavam a dificuldade de comunicação com o sul, como um argumento definitivo para a manutenção do alinhamento com Lisboa e a rejeição da independência. Após a independência, a situação continuou a mesma e a província se recusou a aderir ao sistema do Rio de Janeiro, mantendo-se fiel às Cortes de Lisboa e aos ideais liberais. O governo do Pará confirma a adesão espontânea às Cortes, apoio este que foi selado através de um “juramento solene”. O Pará seria logo reconhecido como província de Portugal, subordinando-se diretamente ao governo revolucionário, ignorando a corte do Rio de Janeiro e adotando provisoriamente a constituição de Cádiz. Porém, pouco depois, a situação se agravou, José Bonifácio contratou Thomas Cochrane, ex-capitão do exército inglês para conter os insurgentes, tarefa que foi cumprida com habilidade em todas as províncias que se mantinham ao lado de Portugal, inclusive o Pará, que foi ocupado por subordinados a Cochrane e finalmente aderiu à emancipação do Brasil em agosto de 1823. Ver também PARÁ, Capitania do
URUCUM (Bixa orellana)
Substância tintorial de cor avermelhada extraída do fruto do urucuzeiro, planta da família das Bixacéas. Utilizada pelos índios para tingir objetos cerâmicos e para pintura corporal, apresenta ação repelente contra insetos e proteção solar quando misturado a óleos de origem vegetal ou animal. Desde os primeiros contatos entre portugueses e índios, o urucum tinha valor de troca no escambo. Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei português d. Manuel, ao comunicar a descoberta de terras além-mar em 1500, diz em certo trecho: “Alguns traziam uns ouriços verdes, de árvores, que, na cor, queriam parecer de castanheiros, embora menores. E eram cheios duns grãos vermelhos pequenos, que, esmagando-os entre os dedos, faziam tintura muito vermelha, de que eles andavam tintos. E quanto mais se molhavam, tanto mais vermelhos ficavam”. Logo os portugueses e colonos passariam a adotar esse corante em sua culinária. A semente moída do urucum ganharia o nome de colorau, em referência a uma especiaria portuguesa de mesmo nome feita com pimentão vermelho. As sementes de urucum têm sido utilizadas no tratamento das mais variadas moléstias como anti-inflamatório, antimalárico, cardiotônico, digestivo, estomáquico, expectorante, febrífugo, hipotensivo, laxativo, no tratamento de queimadura, como repelente de inseto e no combate à tosse.
URZELA (Roccella tinctoria)
Fécula roxa que se prepara a partir de duas espécies de líquens, comumente encontrado nas ilhas do Atlântico norte, produz uma tinta de tom púrpura muito procurada pelas manufaturas europeias da época moderna como corante de tecidos. Açores, ilha da Madeira, Cabo Verde e o arquipélago das Canárias foram os principais exportadores de urzela desde princípios do século XV. De aspecto parecido com um musgo, a urzela era colhida em rochas e penedos junto ao mar e exportada sem qualquer tratamento para a Europa. Utilizando como técnica a maceração do líquen com água quente ou urina humana, obtinha-se tintura de cor vermelha violácea, que alcançava altos preços. Por esta razão, sua comercialização desempenhou importante papel na economia do Império português e constituía exclusivo da Coroa, tendo holandeses e ingleses como principais parceiros. No século XIX, a urzela foi redescoberta como produto comercialmente viável na costa da África. O valioso líquen adaptou-se bem às terras brasileiras, onde também foi explorado. A urzela é usualmente encontrada nas relações de especiarias extraídas pelos portugueses do território brasileiro, conhecidas como drogas do sertão.
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