O antigo Hospital Real de Todos os Santos, primeiro hospital de grande porte português, teve sua construção iniciada ainda no reinado de d. João II (1455-1495), após sucessivas autorizações obtidas junto aos papas Sisto IV, Inocêncio VIII e Alexandre VI, para congregar diversos hospitais da cidade de Lisboa em um único estabelecimento. A inauguração, entretanto, ocorreu apenas em 1504, sob o governo de d. Manuel I (1469-1521). Resultado da fusão de diversas instituições de assistência, o hospital refletia um período de mudança no que tange o papel do Estado absolutista como promotor e gestor da assistência pública, exercida até então pela Igreja. No período medieval, os estabelecimentos de assistência como albergarias, mercearias, gafarias e hospitais, em sua maioria administrados por ordens religiosas e particulares, exerciam principalmente funções de recolhimento, hospício e abrigo, enquanto o atendimento médico era prioritariamente destinado ao espaço domiciliar. No início do século XVI, atendendo às necessidades da crescente população urbana, e refletindo a centralização do poder político na figura do rei, foram criados hospitais gerais nas principais cidades portuguesas, sob controle régio. Além dos doentes, a exemplo das instituições de assistência da época, o hospital abrigava crianças abandonadas (expostos), mendigos e peregrinos, embora não fossem admitidos os portadores de doenças incuráveis e vítimas de peste. A instituição contava com enfermarias separadas para homens e mulheres, uma “casa de doidos”, a casa de expostos e instalações para nobres. No ano de 1564, através de carta régia, o hospital passa a ser de responsabilidade da Misericórdia de Lisboa. Tendo parte de suas instalações destruídas por um incêndio decorrente do famoso terremoto de que a cidade de Lisboa é palco em 1755, seus internos são transferidos pelo Marquês de Pombal, em 1775, para o Colégio de Santo Antão, antiga Casa da Companhia de Jesus, passando a receber o nome de Hospital Real de São José, em honra do rei d. José I.